INICIAÇÃO - ROBERT AMADOU


INICIAÇÃO
Robert Amadou

A Iniciação se define como a passagem a uma outra-maneira de ver, de viver e de agir; a entrada em um outro-lugar real – real, mesmo, por excelência. Desta realidade, da eficácia da Iniciação, a Humanidade é testemunha desde suas origens.

Hoje todos concordamos sobre o fenómeno da Iniciação: trata-se de um conjunto de ritos e ensinamentos, um conjunto de símbolos que provoca uma modificação radical na posição religiosa e social do indivíduo. Trata-se de uma ‘mudança ontológica no regime existencial’. O Iniciado é um outro... Um convite a ser verdadeiramente eu... O Iniciado sabe que a verdadeira vida é do outro lado. Ele não foge, nem para frente, nem para trás. Ele se aprofunda.

O cenário da Iniciação é quase constante: as provas, uma morte, uma ressurreição. Ou ainda um novo nascimento.

O Iniciado é um outro. Ele passou da ignorância ao saber, à ciência. Mas, qual ciência? Qual saber? Primeiro, ele sabe que abandonou a ignorância. Diz-se que passou da natureza à cultura. Que seja. Mas foi para ser e para compreender a natureza e compreender que a compreende. Para penetrar em seu interior paralelamente à entrada em si-mesmo. No esoterismo de-si e no do mundo. Na raiz comum. A Iniciação é descoberta do sentido profundo, de um outro valor que não o sensível, de verdadeiro valor do sensível. É uma revelação sobre o sagrado, sobre a morte, sobre a sexualidade; sobre o mundo e sobre mim; sobre a sociedade; sobre minhas relações com os outros e com a natureza que é simplesmente um outro...

A Iniciação revela, ao mesmo tempo, a dimensão cósmica da existência humana e a dimensão interior do homem. O homem e o mundo são análogos – micro e macrocosmo. Pode-se também dizer microantropo e macroantropo. O homem está em harmonia com a Natureza porque, em imaginação, experimenta seus vínculos com ela. Tudo é mito; tudo é símbolo.

Robert Amadou

A LIVRE INICIAÇÃO - JEAN CHABOSEAU


A LIVRE INICIAÇÃO
Jean Chaboseau


O texto que se segue foi escrito pelo Amado Irmão Jean Chaboseau:

“Nosso lembrado Irmão Augustin Chaboseau ( co-fundador da primeira Ordem Martinista administrativamente organizada juntamente com Papus, e é importante salientar que Documentos da época de Papus atestam que Papus e Augustin Chaboseau iniciaram-se mutuamente, unindo as duas correntes de que eram depositários, para não deixar dúvida quanto à legitimidade das iniciações que portavam e que remontavam a Saint-Martin. ) escreveu algumas notas sobre o que chamou de sua “Iniciação” pela sua tia Amélia de Boisse-Montemart, que não deixam a menor dúvida a respeito, tratava-se unicamente da transmissão oral de um ensinamento par­ticular e de certas compressões das leis do universo e da vida espiritual, o que em nenhum caso pode-se considerar uma iniciação ritualística propriamente dita. As linhas que uniram Augustin Chaboseau, Papus e outros e que provém de Saint-Martin são, com efeito, linhas de afinidades espirituais...”

“É justamente neste ponto que aparece a profunda contradição existente, de um lado, entre o desejo de liberdade interior que deve desprender-se de todo formalismo para permitir à personalidade espiritual estabelecer-se e definir-se fora de toda classe de coletivida­des e, de outro lado, esta espécie de desmentido ao anterior que parecem aportar certos ocultistas dos fins do século XIX, ao criar suas associações, Ordens e Sociedades.”

“Existe uma qualidade de alma que caracteriza essencialmente o verdadeiro Martinista, é aquela afinidade entre espíritos unidos por um mesmo grau em suas possibili­dades de compreensão e adaptação, por um mesmo comportamento intelectual, pelas mesmas tendências, de tudo o qual se segue a constatação obrigatória de que o Martinismo está com­posto, exclusivamente, de seres isolados, solitários, que meditam no silêncio de seu gabinete, buscando sua própria iluminação.”

“Cada um destes seres tem o dever, uma vez que adquiriram o conhecimento das leis do equilíbrio, de transmitir a compreensão adquirida ao seu redor, a fim de que aqueles que forem chamados a compreender, participam daquilo que ele cria, por sua vida espiritual ou pela verdade que encerra. É aqui, então, que intervém a “missão de serviço” do Martinismo e é somente neste sentido que esta corrente espiritual especial encontra seu lugar na Tradição Ocidental.”

“É isto é tão verdadeiro que sempre se manteve nos diferentes Ramos Martinistas, o regime da Iniciação Livre, em forma paralela àquela que se conferia nas Lo­jas, como uma recordação daquela liberdade individual de que dispunha todo verdadeiro Martinista e que, em princípio, está por cima de toda “Obediência”.”

Em conseqüência, existe uma grande contradição entre o espírito digno e livre do nosso Venerável Mestre Saint-Martin, de seus sucessores, os “Superiores Incógnitos”. e a atitude de alguém que se sentiu o exclusivo depositário da Tradição do Filósofo Desconhecido, declarando-se possuidor da categoria de regulador supremo desta Iniciação e o único Martinista regular, excluindo a todos os que não o seguissem.

Ainda mais, devemos recordar que cada Filósofo Desconhecido ( também chamado de Livre Iniciador ) ou Presidente de Grupos ou Lojas Martinistas pode dar à sua coletividade a orientação espiritual que julgue mais conveni­ente, de acordo com sua consciência, conhecimento e experiência ( logicamente arcando com a responsabilidade de seus erros e enganos)

Jean Chaboseau, ex-Grão Mestre da Ordem Martinista Tra­dicional, continua afirmando:

“As distensões de toda espécie nada mais são do que a prova da ilegitimidade fundamental de toda Ordem Martinista oficializada.”

“Sinceramente desejo, em razão desta circunstância, que o Martinismo volte a ser o que sempre devia ter sido: uma simples associação de espíritos unidos pelas mesmas aspirações espirituais e guiados pelas mesmas investigações, sob a luz do Cristo... fora de toda e qualquer preocupação de Ordem ou Obediência.”

“O Martinismo é essencialmente Cristão. Não se pode conceber um Martinista que não seja um fiel discípulo de Jesus Cristo ( Yeschouá) , o Salvador e Reconciliador, Encarnação do Verbo!” ( É importante esclarecer que o conceito Martinista de Jesus, o Cristo, está mais próximo ao gnosticismo e a corrente Joanita Rosacruciana ou Cristia­nismo Esotérico da Igreja de João ). “Porém, parece que um grande número de Martinistas não esteve, ou não está compenetrado deste espírito perfeitamente universal na mais ampla significação do termo. Desejando singularizar-se, particularizar-se, desejando presidências, Grão-Mestrados, títulos, graus e honras, em nome de um Filósofo no qual a modéstia e a sensibilidade eram proverbiais, parecem ter esquecido um dos primeiros princípios ou precei­tos cristãos... “

Sabemos que os Grupos e Lojas Martinistas para seu bom funcionamento, de­vem ter sua diretoria, oficialidade, regulamentos, etc... Mas essa estrutura deve permanecer sempre enquadrada dentro dos limites essenciais e genuínos ao espírito do que chamamos Martinismo. Ele está em contradição com as vaidades, ambições, ansiedade em escalar graus, colecionar títulos e dignidades iniciáticas; são atitudes que revelam falta de maturidade espiri­tual.

O verdadeiro Martinista é um ser silencioso, humilde, tolerante e compreensivo.

Vale lembrar que nosso Venerável Mestre Saint Martin nunca foi “Martinista” pois o Martinismo nasceu de seus seguidores que foram iniciados pelo Filósofo Desconhecido no sistema de Iniciações diretas nos chamados “círculos de Íntimos” , portanto , mesmo os mais exaltados defensores do Martinismo administrativamente organizado em Ordens formais, teve invariavelmente sua corrente iniciática proveniente de um grupo independente.

Se o Martinismo pode ser praticado com sucesso em organizações independentes no passado porque não o pode hoje?

As Ordens oficialmente organizadas são a mais importante forma de trabalho Martinista, são muito mais efetivas, abrangentes, seguras e certamente tem os melhores resultados, mas nós devemos reconhecer e respeitar aqueles que escolheram um caminho diferente e mesmo assim continuam sendo nossos Amados Irmãos e agentes do Invisível.

DISCURSO DE INICIAÇÃO AO S.I. - TRECHO






DISCURSO DE INICIAÇÃO AO S.I.
Stanislas de Guaita

"(...) Nós te oferecemos o começo, e aqui termina o papel de teus Iniciadores. Se tu, por ti mesmo, chegares à compreensão dos Arcanos,, merecerás o título de Adepto. Deves, entretanto, saber que seria inútil que os mais sábios mestres te revelassem as supremas fórmulas da ciência e do poder mágico; a Verdade Oculta não se deixaria transmitir em um discurso: cada um deve invoca-la, cria-la e desenvolve-la em si.

"Tu és Iniciatus: aquele que outros colocaram na senda. Esforça-te para tornaste-te Adeptus: aquele que conquistou a Ciência por si próprio- em suma, o filho de suas obras (...).

" Se tu queres tornar-te um Adepto impõe ao Eu o mais religioso silêncio para que ele seja escutado; e, então, mergulhando no mais profundo de tua inteligência, escuta a voz do Universal, o Impessoal, Aquele que os Gnósticos chamavam de Abismo." 

~ Stanislas de Guaita

O ORIENTADOR ESPIRITUAL DA ORDEM MARTINISTA




O ORIENTADOR ESPIRITUAL DA ORDEM MARTINISTA
Hermanubis Martinista

Um dos grandes objetivos do Hermanubis Martinista e seus membros é o de trazer a público os textos, os documentos, e principalmente a literatura Martinista que por um motivo ou outro tenha se perdido no tempo ou que seja de domínio público porém pouco divulgado.

Nós dedicamos os últimos meses a uma pesquisa bastante profunda e ampla para trazer aos estudantes a história e as lições daquele que foi o Grande Orientador Espiritual de Papus e consequentemente da Ordem Martinista fundada por ele, estamos nos referindo ao nosso Amado Irmão Mestre Philippe de Lyon.

Para este novo e inédito livro (Mestre Philippe de Lyon – O Orientador Espiritual da Ordem Martinista – Edições Hermanubis) pesquisamos em toda a literatura disponível, os feitos fantásticos, as curas, os ensinamentos, a influencia dele no Martinismo Russo, enfim, toda a influência que Mestre Philippe teve no Martinismo Contemporâneo. Conseguimos reunir em um único volume histórias surpreendentes, lições de vida, ensinamentos profundos, conseguimos até mesmo resgatar de alguns manuscritos escritos por Papus, uma série de discursos proferidos pelo Mestre, documentos estes confiscados pelos Nazistas e resgatados pelo Amado Irmão Philippe Encause, filho de Papus.

Deste novo trabalho, estamos disponibilizando aos internautas, alguns trechos importantes:

... Além de suas curas milagrosas, as predições que efetuava e o conhecimento do passado das pessoas ficou marcado na memória de todos aqueles que o cercavam. Um dia, viajando em um compartimento de um trem, juntamente com um amigo e um bispo, foi desafiado por este último a contar-lhe algo de seu passado ou de sua família.

"Pois bem, disse-lhe o Mestre, vou satisfazer sua curiosidade: há alguns anos, um membro de sua família apareceu enforcado junto à janela e todos acreditaram em suicídio. Seu parente foi assassinado primeiro e depois dependurado para simular o suicídio". O bispo, surpreso, concordou que era verdade, mas se julgava o único depositário daquele segredo de sua família".

Logicamente este tipo de acontecimento o tornou inimigo da igreja, mesmo sendo ele um católico praticante.

Um dia ele negou-se a curar um paralítico. Admirado, Haehl perguntou-lhe porque não curava se tinha poderes para tal. "Acontece que é a segunda existência que esse infeliz está neste estado, mendigando, pois não quer trabalhar”.

Em uma das reuniões um homem arrogante dizia em alta voz que era preciso ser um idiota para acreditar no que Philippe dizia e fazia. Mais tarde, o Mestre chamou-lhe em uma sala contígua e perguntou-lhe porque motivo em tal lugar, em tal hora, tinha estrangulado esta mulher (mostrando-lhe a cena), eu estava a teu lado, disse-lhe. O homem caiu de joelhos pedindo-lhe perdão, e rogando-lhe que não entregasse à polícia. " Satisfaço teu desejo se mudares de vida e se seguires tua religião de nascimento", disse-lhe Philippe. "Se eu seguir minha religião, terei de confessar-me", replicou o assassino. "Não precisa, respondeu-lhe o Mestre, tu já te confessaste a mim e isto basta ". O homem foi embora chorando.

Um dia, em uma das sessões, um camponês saiu precipitadamente de seu lugar e sacudiu violentamente a maçaneta da porta. Mestre Philippe perguntou-lhe se ele queria demolir a casa . "Não senhor, disse humildemente o camponês, eu apenas quero ir imediatamente ao banheiro" . "Então, diga apenas à porta que se abra e ela abrir-se-á". "Porta, abre-te, gritou o camponês ". Imediatamente, os enormes batentes da porta se abriram. Os presentes olharam quem poderia ter aberto a porta. O corredor e a escada estavam vazios. A admiração foi geral e alguns riram, face ao poder do Mestre e a grande fé do humilde camponês.

Certa vez alguém desafiou o Mestre, dizendo-lhe que era capaz de realizar prodígios com sua baqueta. Encontrando-se os dois nos arredores de Arbresle, na propriedade de Philippe, este tomou uma pedra e após marcá-la com um sinal e ter vendado os olhos do desafiante, jogou-a longe e mandou que ele a encontrasse. Isso foi feito em poucos instantes.

"Agora, disse-lhe Philippe, é a minha vez de fazer alguma coisa. Estás vendo que não há nenhuma nuvem no céu e ninguém prevê mau tempo. Pois bem, eu desejo que dentro de 15 minutos caia uma forte chuva sobre toda vila de Arbresle, assim como sobre esta propriedade, e que nenhuma gota de água nos atinja no terraço em que estamos".

Dito e feito. O homem da baqueta desapareceu da vida do Mestre tão logo a chuva passou, alias Mestre Philippe tinha fama de controlar os eventos atmosféricos.

Fatos extraordinários foram contados pelo próprio Mestre: "Certa vez compareceu a reunião um policial alto, louro, mas à paisana. No momento em que roguei a todos que se levantassem, ele permaneceu sentado, com o chapéu sobre a cabeça; enrolou um cigarro e começou a fumar. No mesmo instante, eu vi um anjo que atravessava o teto da sala e que, vindo a ele, marcou-o sobre o Livro da Morte. Três dias após o homem estava morto".

Mestre Philippe curava os males mais inverossímeis e o efeito se produzia instantaneamente, as testemunhas ficavam estarrecidas, ele dizia sempre que não era ele quem agia, mas o Céu, ou seu amigo , a quem podia pedir tudo.

Já na intimidade ele era outro, na presença de um amigo que sentia estar mais próximo dele, entregava-se mais numa calma quase perfeita, que inundava o ambiente.

Certa feita, contou Philippe a seus discípulos, “ o comissário especial das delegações judiciárias, que eu conhecia, pediu-me que desse a um de seus amigos de passagem uma sessão especial, e que eu convidasse apenas gente fina pois seu amigo era pessoa importante. No dia combinado, ele veio com seu secretário e mais duas pessoas, que eram policiais. Na frente da casa havia um contingente de policiais. Eu fui advertido para não realizar nenhuma experiência. Tendo acabado a sessão, o comissário ordenou-me que fechasse a porta, pois tinha ordens de revistar a casa. Ele tomou o nome dos presentes e levou alguns papéis".

Ao mesmo tempo era feita uma revista na casa de vários seguidores do Mestre , onde forçaram as janelas e portas. À noite, disse a Papus, eu tinha decidido punir esse homem. Ele me foi trazido em corpo e em espírito e alguém colocou uma espada em sua mão. Na última hora Mestre Philippe desistiu da punição, isso não valia a pena. Ele próprio caiu de joelhos e orou pelo policial.

Alguém, um dia, lhe perguntou porque tanto trabalho e porque dizia coisas tão belas para auditórios tão medíocres. "Acontece, disse-lhe Philippe, que tudo o que digo e se faz aqui, repercute-se em todo o Universo". Não é este um trabalho tipicamente Martinista? Dedicando tempo, estudo e esforço mental para contribuir para a evolução espiritual do Homem?

Mestre Philippe complementava ainda : "A maioria das pessoas que vêm aqui ficam marcados no Livro da Vida e, após terem recebido um raio de Luz todos ficam mais fortes".

Dizia também que Jesus pedia a seus ouvintes que não pecassem mais e que ele apenas recomendava a todos que procurassem tornar-se melhores a cada dia que passava; pois todo aquele que fica pelo menos alguns instantes com bons sentimentos, mergulhando seu espírito no bem, já se sente melhor. Querem viver bem, com saúde, merecendo a Graça Divina? Pois então não falem mal do seu próximo, costumava repetir o Mestre. Todos têm a obrigação moral de levantar seu próximo, não devendo, portanto, rebaixá-lo com maus pensamentos ou com palavras. Esses atos não só prejudicam o próximo, como se repercutem (choque em retorno) e voltam sobre aquele que os praticou.

Recomendava, também, que todo aquele que tivesse aberto processo contra seu próximo devia parar seu andamento, pois se não está de acordo neste mundo como poderá estar bem no outro?

Ele não curava ninguém que perseguisse seu semelhante. "Teu vizinho quer um pedaço de terreno, dizia ele, afirmando que lhe pertence? Pois dá-lhe! Toda a terra pertence a Deus e o homem aqui em baixo não passa de um ocupante provisório. Após à morte, nada levará. Os herdeiros que trabalham para conquistar o necessário para viver ou para enriquecer se desejarem. A riqueza, dizia, não é um mal em si, pois pode dar ocupação a outras pessoas. O que não se deve é guardar para si sem beneficiar o próximo, mas fazer circular. Não se deve, também, querer o dinheiro como um fim em si, mas como um meio de ajudar o próximo".

Ninguém conseguirá entrar no Paraíso sem ter vencido o inimigo que está no interior de cada um. Esse inimigo fica enfraquecido toda a vez que se pratica o bem ou que se perdoa ao próximo.

Essas pequenas exigências que o Mestre Philippe fazia a todos aqueles que solicitavam um favor (exigências pequenas, porém difíceis) eram conhecidas de muitos, como atesta a seguinte história:

Havia, em Lyon, um verdureiro que vendia a crédito para um grande número de pessoas. O bairro onde encontrava-se instalado era bastante populoso. Um dia ele veio desesperado atrás de Philippe pedindo-lhe que fosse ver seu filho que havia acabado de falecer, vítima da difteria. O Mestre disse-lhe que estaria em sua casa em pouco tempo.

Lá chegando, perguntou-lhe se muitas pessoas lhe deviam dinheiro. Sim disse o verdureiro, veja todas essas contas dos clientes nestes cadernos. Poucos são os que me têm pago.

- E tu exiges o pagamento de todas essas dívidas?

- Não e vou jogá-los agora mesmo no fogo.

O verdureiro jogou os cadernos na lareira, sendo logo devorados pelas chamas.

O Mestre entrou no quarto do morto, onde já se encontravam algumas pessoas. Perguntou-lhes Philippe se já haviam solicitado a algum médico o atestado de óbito. Diante da negativa, Philippe chamou o jovem pelo seu primeiro nome e o mesmo se levantou, então pediu a todos os presentes que nada revelassem do que viram, " porque é proibido fazer milagres".

Este é apenas um exemplo dos milagres documentados pelos seguidores e delatado pelos perseguidores, mas em todo caso, tanto um quanto outro registram a existência do fato em si....

... "A alma é a vida do espírito, o pão do espírito. Ela é uma centelha divina; devemos fazê-la crescer. É necessário que ela se torne um sol em nós. Nossa alma cresce quando progredimos no caminho do bem”

" Antes de descer na matéria, as almas estavam no paraíso e no estado de inocência e, por conseguinte, no estado de não-conhecimento. Elas brincavam como crianças ou como anjos e degustavam os frutos do Paraíso. Deus as fez degustar o bem e o mal, enviando-as no mal sob a influência dos demônios, no egoísmo, para aí crescer na provação e na dor, ao longo dos caminhos impostos. Se o homem não houvesse caído não conheceria nada. Caindo e depois se elevando ele ficará acima dos anjos”

" Quando Deus lançou as almas na matéria, Ele deu a cada uma delas um caminho a percorrer, dizendo-lhes: "Eis o caminho que deveis seguir: desbastai-o e tornai-o livre, pois o Senhor por aí deverá passar". Se soubéssemos o significado dessas parábolas, nos sentiríamos possuídos por um imenso orgulho. Tal caminho está cercado, a cada passo, por inúmeras provas impostas por Deus às almas. Essas provas diferem segundo os caminhos”

"A cada dia que passa, a alma aproxima-se de Deus; e quando ela estiver pronta, aparecerá diante Dele. É preciso que para isso ela seja mais brilhante que o sol; de outro modo, ela não poderia resistir. É por isso que é necessário sofrer. Somente o sofrimento pode enobrecer a alma; é o único modo de avançar. Nossa alma é julgada segundo o mal que fez, pois tudo o que fizermos de mal deve ser reparado. Devemos pagar nossas dívidas, porque uma dívida contraída no mundo não pode apagar-se a não ser neste mundo. Tudo o que está ligado neste mundo não pode desligar-se no outro”

" Suportemos, pois, nossas provações com calma e resignação, mesmo quando não soubermos por que sofremos. Deus é justo e infinitamente bom. Ele não pode enganar-se. Se ele nos envia provações é porque merecemos. Não conhecemos o passado e, por isso, não sabemos porque sofremos. Talvez tenhamos feito muito mal nesta existência. Porém, como nossa alma existe há muitíssimo tempo, ela pode ter praticado muito mal e esse mal deverá ser resgatado. Não conhecemos o passado, porque, se Deus nos permitisse esse conhecimento, teríamos medo. É por isso que sofremos sem saber por quê. Mais tarde, quando conseguirmos ver no passado, saberemos de onde provém nossas provações.

‘Para que o homem consiga pagar todas as suas dívidas, é necessário inúmeras encarnações. A alma é bem mais velha do que o corpo; a ressurreição é pela reencarnação. É dito que o neto pagará as dívidas do avô. Muitas vezes o avô encarna na própria família, tornando-se descendente dele próprio. Não conhecemos nossas existências anteriores para o nosso próprio bem, pois conhecendo evitaríamos certos acontecimentos que nos surgem para nossa própria evolução”

~ Mestre Philippe de Lyon

PARA SER UM VERDADEIRO MARTINISTA


PARA SER UM VERDADEIRO MARTINISTA

Nosso Muito lembrado e Amado Irmão Dr. Gérard Encausse (Papus), traçou a síntese dos princípios fundamentais do Martinismo, para entregá-la à meditação dos Homens de De­sejo que aspiram à Iniciação Martinista. Ainda Hoje constituem a doutrina fundamental da Ordem:

1º) - Escolher sempre um local onde a oração se pratique, qualquer que seja o culto.

2º) - Recordar que nem sempre os Verdadeiros Mestres são excessivamente aficio­nados aos livros e que colocam a sensibilidade e a humildade acima de toda ciência. Desconfiar dos Pontífices e dos homens que se dizem perfeitos.

3º) - Não alienar jamais a liberdade por um juramento que a prenda, provenha ele do clero ou de uma sociedade secreta; só Deus tem direito a receber um juramento de obedi­ência passiva.

4º) - Recordar que todo poder invisível vem do Cristo, Deus encarnado através de todos os planos. No invisível, não ficar jamais em relação com um ser astral ou espiritual que não reconheça desta maneira Cristo. Não buscar a obtenção de “poderes”, mas aguardar que o Céu decida se sois dignos deles.

5º) - Não julgar as ações dos outros e não condenar o próximo. Todo espiritualista, em razão das provas que a vida vai colocando em seu caminho por causa dos sofrimentos que deve enfrentar ou em virtude de sua filosofia, seja cristão, israelita, muçulmano, budista ou livre pensador e, em geral todo ser humano, conta com as faculdades necessárias para evoluir ao Plano Divino. Julgar é próprio do Pai e não dos homens...

6º) - Ter a certeza de que o ser humano jamais é abandonado pelo Alto, mesmo em seus momentos de negação e de dúvida. Lembrar que nos encontramos no plano físico com a finalidade de servir os demais e não para satisfazer nossos próprios fins egoístas.

7º) - Recordar que a purificação física, recorrendo a um regime especial, constitui uma atitude infantil se não se apoiar na purificação astral, na caridade, no silêncio, na purifica­ção espiritual e no esforço perseverante de não pensar nem falar mal do próximo. Saber muito bem que a Oração, que proporciona Paz ao Coração, é preferível a toda magia que so­mente traz orgulho.

O homem deve optar entre dois mestres. Deixando de lado o príncipe deste mundo, o Martinismo elegeu e quis consagrar-se a Cristo, por cima de toda classe de clere­zias. É como uma Cavalaria Laica do Homem-Deus. Sua finalidade: desenvolver, em quem vem à Ordem Martinista, o coração e os sentimentos para que aprenda a amar. São seus meios de ação: a pobreza , o silêncio , a paciência , a Fé .

O Deus em que crêem os Martinistas é o Senhor dos Tempos. Os que quiserem ver, verão. Os que chamarem poderão entrar. O Martinismo abre suas portas a todos os ho­mens e mulheres de boa vontade. E ... como presente de boas vindas, lhes dá o que há de mais precioso em meio dos tormentos, dos infortúnios e das desgraças: A PAZ DO CORAÇÃO!